Introdução
A economia de fichas é uma técnica de modificação de comportamento amplamente utilizada na Análise do Comportamento Aplicada (ABA), particularmente no tratamento de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Este artigo, oferece uma análise detalhada dessa técnica, abordando sua implementação, benefícios e desafios. A economia de fichas, fundamentada no condicionamento operante, utiliza reforços tangíveis para incentivar comportamentos desejados e desencorajar comportamentos indesejados, contribuindo para o desenvolvimento global do indivíduo.
Princípios e Implementação da Economia de Fichas
A economia de fichas baseia-se nos princípios do condicionamento operante, uma teoria desenvolvida por B.F. Skinner, que sugere que o comportamento é influenciado pelas consequências que se seguem a ele. Na economia de fichas, fichas ou símbolos são utilizados como reforçadores secundários para promover comportamentos alvo. Essas fichas podem ser trocadas posteriormente por reforços primários, como brinquedos, atividades preferidas ou outros itens de valor significativo para o indivíduo (Skinner, 1973).
O processo de implementação da economia de fichas envolve várias etapas sequenciais. A primeira etapa é a identificação dos comportamentos-alvo, que são os comportamentos que se deseja promover ou reforçar. Esses comportamentos devem ser claramente definidos e estar alinhados com os objetivos terapêuticos. Por exemplo, em uma intervenção ABA com uma criança com TEA, os comportamentos-alvo podem incluir o uso de palavras para comunicar necessidades, o contato visual durante a interação social, ou a participação em atividades de grupo (Alves, 2022).
A segunda etapa envolve o estabelecimento do sistema de fichas. Nesta fase, são definidos os detalhes do sistema, incluindo os tipos de fichas a serem utilizadas, o valor atribuído a cada ficha e as recompensas disponíveis para a troca. É essencial que o sistema seja personalizado para atender às necessidades e interesses específicos do indivíduo. As recompensas devem ser variadas e incluir tanto reforços tangíveis, como brinquedos, quanto reforços sociais, como elogios e tempo de brincadeira (Skinner, 1973).
O monitoramento e reforço dos comportamentos-alvo constituem a terceira etapa. Os comportamentos são monitorados de forma contínua, e as fichas são entregues imediatamente após a ocorrência do comportamento desejado. A entrega imediata das fichas é essencial para reforçar a associação entre o comportamento e a recompensa, aumentando a probabilidade de que o comportamento se repita no futuro. As fichas acumuladas podem ser trocadas por recompensas em intervalos regulares, como no final do dia ou da semana (Lerman & Vorndran, 2002).
Na quarta etapa, denominada manutenção e ajuste do sistema, o foco é garantir que o sistema continue eficaz ao longo do tempo. Isso pode envolver ajustes nos comportamentos que estão sendo incentivados, adaptação das recompensas oferecidas, e até mesmo mudanças nas regras do sistema. Manter as regras claras e consistentes é fundamental para o sucesso do sistema de economia de fichas (Alves, 2022).
Aplicações Práticas da Economia de Fichas
A economia de fichas é uma técnica versátil e eficaz que pode ser aplicada em diversos contextos, como escolas, clínicas e ambientes domésticos. Além de promover o desenvolvimento de habilidades sociais e independência em tarefas diárias, a economia de fichas é eficaz na redução de comportamentos desafiadores e no aumento da motivação e do engajamento em atividades de aprendizado.
Por exemplo, em um ambiente escolar, a economia de fichas pode ser utilizada para incentivar comportamentos como o cumprimento das tarefas escolares, a participação em atividades de grupo, e o respeito às regras da sala de aula. Em casa, os pais podem utilizar um sistema de fichas para promover comportamentos como a realização de tarefas domésticas, a cooperação com os irmãos, ou a adesão a rotinas diárias (Lerman & Vorndran, 2002).
Uma aplicação importante da economia de fichas é no desencorajamento de comportamentos disruptivos ou agressivos. Nesse contexto, a retirada de fichas pode ser utilizada como uma forma de punição negativa, reduzindo a probabilidade de que o comportamento indesejado ocorra novamente. No entanto, é essencial que essa técnica seja aplicada de forma ética e respeitosa, preservando a dignidade e o bem-estar do indivíduo (Skinner, 1973).
Considerações Éticas e Ajustes na Implementação
A aplicação da economia de fichas deve ser conduzida com cautela, especialmente no contexto do TEA. É fundamental que o sistema seja aplicado de maneira ética, respeitando a dignidade e a privacidade da criança. Além disso, é importante evitar o uso excessivo de reforços artificiais, como recompensas tangíveis, e incorporar uma variedade de reforços, incluindo reforços sociais e naturais, para promover um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável (Alves, 2022).
O assistente terapêutico ABA deve estar atento à necessidade de ajustar o sistema de economia de fichas ao longo do tempo, conforme o indivíduo progride e suas necessidades mudam. Isso pode incluir a redução gradual das recompensas à medida que os comportamentos desejados se tornam mais consistentes, bem como a introdução de novos comportamentos-alvo e a adaptação das recompensas para manter o sistema motivador e relevante (Lerman & Vorndran, 2002).
Um desafio potencial na implementação da economia de fichas é a possibilidade de extinção dos comportamentos desejados quando o reforço é removido. A extinção ocorre quando um comportamento que costumava ser seguido por consequências positivas deixa de produzir essas consequências, resultando na diminuição ou cessação do comportamento. Para mitigar esse risco, é importante que o assistente terapêutico ABA esteja preparado para gerenciar as reações emocionais do indivíduo e ajustar as estratégias conforme necessário para manter o progresso (Skinner, 1973).
Conclusão
A economia de fichas é uma técnica poderosa e flexível dentro da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), que pode ser eficazmente utilizada para promover comportamentos desejados e reduzir comportamentos indesejados em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sua implementação bem-sucedida requer um planejamento cuidadoso, uma personalização adequada às necessidades do indivíduo e uma aplicação ética que respeite a dignidade e o bem-estar da criança. Com ajustes contínuos e uma abordagem equilibrada, a economia de fichas pode contribuir significativamente para o desenvolvimento global e a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos com TEA.
Referências
- ALVES, K. N. A Análise do Comportamento Aplicada na construção de habilidades sociais no Transtorno do Espectro Autista. Sinop-MT, 2022.
- LERMAN, D. C.; VORNDRAN, C. M. On the status of knowledge for using punishment: Implications for treating behavior disorders. Journal of Applied Behavior Analysis, 35(4), 431-464, 2002.
- SKINNER, B. F. Sobre o Conceito de Economia de Fichas. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 20(1), 99-103, 1973.
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Christiane Dominique, psicóloga pessoas com o espectro.
Parabéns por fazer parte de nosso time.