Desenvolvimento de Habilidades Funcionais em Crianças Autistas Através de ABA

Introdução

A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma abordagem comprovada para o desenvolvimento de habilidades em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). ABA utiliza princípios comportamentais para modificar comportamentos, ensinar novas habilidades e promover a independência em crianças autistas. Este artigo, explora uma série de treinamentos voltados para o desenvolvimento de habilidades funcionais essenciais. Estes incluem a imitação de comportamentos, a correspondência de itens, o treinamento de ouvinte e a capacidade de esperar em situações sociais. As técnicas de ajuda física, gestual e independente são apresentadas como estratégias eficazes para alcançar esses objetivos.

Treinamento de Imitar Comportamentos

A imitação é uma habilidade fundamental que muitas crianças autistas precisam desenvolver. A capacidade de imitar comportamentos é fundamentall para a aprendizagem social e a aquisição de novas habilidades. O treinamento de imitação pode ser dividido em etapas que envolvem a ajuda física total, gestual e independente.

Na fase de ajuda física total, o terapeuta guia fisicamente a criança para realizar um movimento específico, como bater palmas ou levantar os braços. O objetivo é ensinar à criança a conexão entre o comando verbal e o movimento físico. A cada tentativa bem-sucedida, a criança recebe reforço positivo, como elogios ou fichas. À medida que a criança se familiariza com o comportamento, o terapeuta transita para a ajuda gestual, onde gestos simples são utilizados para guiar a criança. Finalmente, na fase independente, a criança é incentivada a imitar o comportamento sem assistência, sendo reforçada por suas tentativas corretas (Baer, Peterson & Sherman, 1967).

Treinamento de Correspondência de Itens (Matching-to-Sample)

A habilidade de parear itens com base em características, funções ou classes é uma habilidade cognitiva importante que pode ser ensinada através do ABA. O treinamento de correspondência de itens segue um formato semelhante ao do treinamento de imitação, começando com a ajuda física e progredindo para a independência.

Inicialmente, o terapeuta ajuda fisicamente a criança a parear um item com outro idêntico, como dois blocos da mesma cor. A cada pareamento correto, a criança recebe um reforço positivo. Na fase de ajuda gestual, o terapeuta utiliza gestos para indicar à criança qual item deve ser pareado. Finalmente, na fase independente, a criança realiza a tarefa de pareamento sozinha, sendo recompensada por suas respostas corretas (Skinner, 1957).

Treinamento de Habilidade de Ouvinte

A habilidade de ouvinte envolve a capacidade da criança de prestar atenção a instruções e agir de acordo com elas. Este treinamento é fundamentall para o desenvolvimento da comunicação e da capacidade de seguir orientações em diferentes contextos sociais.

O treinamento de ouvinte pode começar com a ajuda física total, onde o terapeuta guia a criança para selecionar o item correto com base em uma instrução verbal, como “pegue o bloco vermelho”. À medida que a criança demonstra compreensão, o terapeuta pode utilizar a ajuda gestual, apontando para o item correto enquanto repete a instrução. Na fase independente, a criança deve ser capaz de ouvir e responder às instruções sem assistência, recebendo reforço positivo para respostas corretas. A prática em diferentes contextos e com diferentes pessoas é essencial para a generalização dessa habilidade (Stokes & Baer, 1977).

Treinamento de Esperar

Ensinar a criança a esperar pacientemente é uma habilidade importante que pode ser desafiadora, mas é fundamental para a participação em atividades sociais e educativas. O treinamento de espera segue uma abordagem gradual, utilizando técnicas de ajuda física, gestual e verbal para facilitar a compreensão e a execução da tarefa pela criança.

O treinamento começa com a ajuda física total, onde o terapeuta pode segurar as mãos da criança para evitar que ela pegue um objeto antes do tempo permitido. A cada período de espera bem-sucedido, o tempo é progressivamente aumentado, e a ajuda física é gradualmente substituída por dicas gestuais e verbais. Eventualmente, a criança aprende a esperar de forma independente, compreendendo que a paciência é recompensada com reforços positivos, como elogios ou acesso ao objeto desejado (Bailey & Burch, 2016).

Aplicação Prática e Considerações

A aplicação dessas técnicas de treinamento exige paciência, consistência e uma compreensão profunda das necessidades individuais da criança. A chave para o sucesso é a personalização das abordagens para atender às necessidades específicas de cada criança. Além disso, a generalização das habilidades adquiridas é fundamentall para garantir que a criança possa aplicar o que aprendeu em diferentes contextos, como em casa, na escola e em ambientes comunitários.

A colaboração entre o terapeuta, a família e outros profissionais envolvidos no cuidado da criança é fundamental para o sucesso das intervenções. Reuniões regulares de acompanhamento e comunicação aberta garantem que todos estejam alinhados e trabalhando em direção aos mesmos objetivos (Cooper, Heron & Heward, 2007).

Conclusão

O desenvolvimento de habilidades funcionais em crianças autistas utilizando a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma abordagem poderosa para promover a independência e a participação em contextos sociais. Técnicas como imitação, correspondência de itens, treinamento de ouvinte e espera são componentes essenciais para o sucesso dessas intervenções. Ao aplicar essas técnicas de forma personalizada e consistente, e ao promover a generalização das habilidades adquiridas, é possível alcançar resultados significativos na qualidade de vida das crianças autistas.

Referências

  • BAER, Donald M.; PETERSON, Richard F.; SHERMAN, James A. The Development of Imitation by Reinforcing Behavioral Similarity to a Model. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 1967.
  • BAILEY, Jon S.; BURCH, Mary R. Ethics for Behavior Analysts. 3ª ed. New York: Routledge, 2016.
  • COOPER, John O.; HERON, Timothy E.; HEWARD, William L. Applied Behavior Analysis. 2ª ed. Upper Saddle River: Pearson, 2007.
  • SKINNER, B. F. Verbal Behavior. New York: Appleton-Century-Crofts, 1957.
  • STOKES, T. F.; BAER, D. M. An implicit technology of generalization. Journal of Applied Behavior Analysis, 10(2), 349-367, 1977.

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