Alterações Sensoriais no TEA

Introdução
As alterações sensoriais são um dos aspectos mais marcantes do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Indivíduos com TEA podem reagir de maneira atípica a estímulos sensoriais, apresentando hipersensibilidade ou hipossensibilidade. Essas respostas sensoriais anormais podem ter um impacto profundo na forma como os indivíduos interagem com o ambiente ao seu redor. Este artigo explora as diferentes manifestações das alterações sensoriais no TEA, suas implicações para o comportamento e as estratégias de intervenção que podem ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas no espectro.


Desenvolvimento

Hipersensibilidade Sensorial
A hipersensibilidade sensorial ocorre quando o indivíduo reage de forma exagerada a estímulos que, para a maioria das pessoas, seriam considerados normais ou toleráveis. No TEA, a hipersensibilidade pode afetar todos os sentidos, incluindo visão, audição, tato, olfato e paladar.

  • Auditiva: Indivíduos com hipersensibilidade auditiva podem achar ruídos comuns, como o som de uma campainha ou de uma sala de aula, extremamente perturbadores. Esses sons podem causar desconforto ou até dor, levando a comportamentos de evasão, como cobrir os ouvidos ou sair do ambiente.
  • Tátil: A hipersensibilidade ao toque pode fazer com que roupas de certas texturas ou o simples contato físico com outras pessoas se tornem intoleráveis. Isso pode resultar em resistência ao toque e na recusa em usar certos tipos de vestuário.
  • Visual: Algumas pessoas com TEA podem ser hipersensíveis a luzes brilhantes ou padrões visuais. Ambientes com luzes fluorescentes ou muitas cores podem ser opressivos, causando distração ou sobrecarga sensorial.

Essas respostas sensoriais exageradas podem dificultar a participação em atividades cotidianas, como frequentar a escola ou o trabalho, e podem contribuir para o desenvolvimento de comportamentos de fuga ou evitativos.

Hipossensibilidade Sensorial
A hipossensibilidade sensorial é o oposto da hipersensibilidade. Nesses casos, os indivíduos não respondem adequadamente aos estímulos sensoriais, o que pode levar à busca de estímulos mais intensos para obter o mesmo nível de percepção sensorial.

  • Auditiva: Pessoas com hipossensibilidade auditiva podem não reagir a sons altos que normalmente provocariam uma resposta imediata, como o barulho de um alarme. Isso pode resultar em situações perigosas, pois o indivíduo pode não perceber sons importantes.
  • Tátil: Indivíduos com hipossensibilidade tátil podem procurar estímulos sensoriais intensos, como apertar objetos ou esfregar superfícies de diferentes texturas. Eles podem preferir roupas que proporcionem uma sensação de pressão ou apertadas.
  • Proprioceptiva e vestibular: Essas duas modalidades sensoriais, que estão relacionadas à percepção do movimento e ao equilíbrio, também podem ser afetadas. Pessoas com hipossensibilidade podem buscar atividades como balançar-se, girar ou pular repetidamente, para aumentar a estimulação sensorial.

A hipossensibilidade pode representar riscos à segurança, pois o indivíduo pode não perceber estímulos potencialmente perigosos, como calor ou dor. Além disso, a busca por estímulos intensos pode interferir no comportamento adequado em contextos sociais ou educacionais.

Impacto das Alterações Sensoriais no Comportamento
As alterações sensoriais estão frequentemente associadas aos comportamentos repetitivos e restritos observados em pessoas com TEA. Comportamentos como balançar o corpo, girar objetos ou bater as mãos podem ser formas de autorregulação sensorial. Esses comportamentos, muitas vezes chamados de “stimming” (comportamentos autossensoriais), ajudam o indivíduo a processar os estímulos sensoriais de maneira mais eficaz.

Esses comportamentos também podem ser desencadeados por sobrecarga sensorial, em que o cérebro é incapaz de lidar com a quantidade de informações sensoriais recebidas. Em outros casos, a hipossensibilidade pode levar à busca por estímulos sensoriais, resultando em comportamentos que, embora possam parecer inapropriados, são essenciais para o bem-estar do indivíduo.

Estratégias de Intervenção para Gerenciar as Alterações Sensoriais
O tratamento das alterações sensoriais no TEA geralmente envolve a intervenção de terapeutas ocupacionais especializados em integração sensorial. A abordagem de integração sensorial visa ajudar o cérebro a processar e responder de maneira mais adequada aos estímulos sensoriais. Algumas estratégias incluem:

  • Criação de um ambiente sensorialmente amigável: Ajustar o ambiente para reduzir os estímulos sensoriais incômodos, como diminuir o brilho das luzes ou usar fones de ouvido com cancelamento de ruído, pode ajudar a evitar sobrecargas sensoriais.
  • Atividades de modulação sensorial: Para pessoas com hipossensibilidade, atividades que proporcionem pressão profunda, como o uso de cobertores pesados ou compressão corporal, podem ajudar a melhorar a percepção sensorial.
  • Pausas sensoriais: Permitir que a pessoa faça pausas para regular suas respostas sensoriais durante o dia pode reduzir comportamentos de sobrecarga ou evasão. Isso pode incluir a criação de um espaço tranquilo em casa ou na escola, onde a pessoa possa se retirar quando sentir necessidade.

A chave para o sucesso dessas intervenções é a individualização. Cada pessoa com TEA experimenta as alterações sensoriais de maneira única, e é importante adaptar as estratégias de acordo com as necessidades específicas.


Conclusão
As alterações sensoriais no Transtorno do Espectro Autista têm um impacto profundo na vida cotidiana das pessoas afetadas, influenciando suas interações sociais, seu comportamento e sua capacidade de participar de atividades diárias. Compreender essas peculiaridades sensoriais e implementar estratégias de intervenção eficazes pode ajudar a melhorar a qualidade de vida dos indivíduos com TEA. A personalização das abordagens terapêuticas, levando em conta as necessidades sensoriais específicas, é fundamental para promover uma maior funcionalidade e bem-estar.


Referências Bibliográficas
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