Introdução
Na Análise do Comportamento Aplicada (ABA), cada comportamento tem uma função. A função é a razão pela qual um comportamento ocorre repetidamente, e pode ser identificada através da análise funcional. Saber a função do comportamento é essencial para criar intervenções eficazes e específicas que tratam da causa, e não apenas dos sintomas. Este artigo examina as quatro funções principais do comportamento: atenção, fuga, tangíveis e estimulação sensorial, e como a compreensão dessas funções podem guiar as intervenções na ABA para modificar comportamentos de forma eficiente.
Desenvolvimento
A Importância de Entender as Funções do Comportamento
Cada comportamento serve a uma função, e essa função geralmente está relacionada à obtenção ou à evitação de algo no ambiente. Quando um comportamento é reforçado, a pessoa aprende que realizar esse comportamento traz um resultado desejado. Na ABA, identificar essa função é essencial para garantir que as intervenções sejam eficazes e para evitar reforçar inadvertidamente comportamentos indesejados.
Por exemplo, uma criança que tem birras para evitar tarefas pode estar fugindo de uma atividade que considera difícil. Se os cuidadores permitirem que a criança evite a tarefa, isso reforça o comportamento de birra. Ao entender a função da fuga, é possível criar uma intervenção que modifique o ambiente e os reforços para promover comportamentos mais adaptativos.
As Quatro Funções do Comportamento
Na ABA, os comportamentos são classificados em quatro funções principais, que explicam o motivo pelo qual ocorrem. Essas funções incluem atenção, fuga, tangíveis e estimulação sensorial.
- Atenção: Comportamentos que visam obter atenção de outras pessoas, como pais, professores ou colegas. Crianças podem agir de maneira inadequada para atrair atenção, como fazer barulho, interromper ou gritar. Se o comportamento gera atenção, mesmo que seja negativa (como uma bronca), a atenção se torna o reforço que mantém o comportamento.
- Fuga ou Evitação: Alguns comportamentos são executados para escapar de uma situação ou tarefa indesejada. Por exemplo, uma criança pode fingir estar doente ou ter uma birra para evitar fazer a lição de casa ou uma tarefa difícil na escola. Se a fuga for bem-sucedida, a criança aprende a usar esse comportamento para evitar outras situações indesejadas.
- Tangíveis: Este tipo de comportamento é motivado pela busca de objetos ou atividades tangíveis, como brinquedos ou comida. Uma criança pode aprender que chorando ou gritando ela consegue o que quer. Se os cuidadores oferecem o objeto para encerrar o choro, acabam reforçando o comportamento indesejado.
- Estímulo Sensorial (ou Autoestimulação): Algumas pessoas, especialmente aquelas com TEA, podem apresentar comportamentos que são reforçados pela estimulação sensorial que proporcionam. Exemplos incluem balançar o corpo, bater as mãos ou girar objetos repetidamente. Esses comportamentos, também chamados de estereotipias, podem ocorrer porque a sensação física que eles produzem é reforçadora.
Exemplo de Aplicação Prática: Função de Atenção
Vamos considerar uma criança chamada Clara, que tem o hábito de interromper as aulas gritando ou batendo na mesa. Os professores muitas vezes param a aula para corrigir Clara, o que inadvertidamente fornece a atenção que ela busca. Após uma análise funcional, os analistas do comportamento determinam que a função do comportamento de Clara é a busca por atenção.
Para modificar esse comportamento, os professores são orientados a ignorar o comportamento de interrupção e, em vez disso, reforçar positivamente Clara quando ela levanta a mão ou participa da aula de maneira adequada. Com o tempo, Clara aprende que comportamentos adequados são mais eficazes para obter a atenção que deseja.
Intervenções Baseadas nas Funções do Comportamento
Uma vez identificada a função do comportamento, a ABA implementa intervenções que modificam o ambiente e os reforços para promover comportamentos mais apropriados. Por exemplo, se a função de um comportamento é a fuga, a intervenção pode envolver ensinar habilidades que ajudem a pessoa a lidar com a tarefa difícil de forma mais eficiente, ao invés de evitar a tarefa. Se a função é atenção, os cuidadores podem aprender a reforçar comportamentos apropriados que também proporcionam atenção.
Esse entendimento também ajuda a evitar reforçar comportamentos inadequados. Se um comportamento indesejado é reforçado inadvertidamente, ele tende a se repetir. A ABA utiliza princípios de reforço positivo e estratégias como a substituição de comportamentos para alterar os padrões comportamentais e ensinar novas formas de atingir os mesmos objetivos.
Conclusão
A identificação da função do comportamento é um dos elementos mais importantes na Análise do Comportamento Aplicada. Comportamentos são mantidos porque eles cumprem uma função, seja ela obter atenção, evitar tarefas ou buscar estimulação sensorial. Ao entender essas funções, é possível desenvolver intervenções mais eficazes e personalizadas, que tratam da causa do comportamento, em vez de apenas gerenciar seus sintomas. A modificação do comportamento, baseada em uma análise funcional detalhada, é a chave para promover mudanças comportamentais duradouras e benéficas para o indivíduo.
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