Introdução
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma abordagem que utiliza princípios comportamentais para promover mudanças positivas no comportamento de indivíduos, especialmente aqueles com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O ABA é altamente eficaz para ensinar novas habilidades e modificar comportamentos desafiadores. Este artigo, explora técnicas específicas de treino, como o uso de ajudas físicas, gestuais e independentes, para desenvolver habilidades cruciais em crianças autistas. A aplicação dessas técnicas pode resultar em melhorias significativas na autonomia e na capacidade de interação dessas crianças.
Treinamento de Contato Visual
Ensinar uma criança a estabelecer contato visual de maneira consistente é um dos principais objetivos da ABA, já que o contato visual é uma habilidade social fundamental. O treinamento pode ser dividido em três etapas principais: ajuda física total, ajuda gestual e ajuda independente.
Na fase de ajuda física total, o terapeuta guia fisicamente a criança para que ela faça contato visual, posicionando-se à sua frente e utilizando as mãos para direcionar o rosto da criança em direção aos seus olhos. Reforços positivos, como elogios ou pequenos prêmios, são imediatamente fornecidos quando a criança faz o contato visual.
Na fase de ajuda gestual, o terapeuta utiliza gestos para indicar à criança onde deve olhar, como apontar para os próprios olhos. A cada tentativa bem-sucedida, a criança é reforçada positivamente. Finalmente, na fase de ajuda independente, a criança é incentivada a fazer contato visual sem assistência, e as tentativas bem-sucedidas são reforçadas para promover a independência (Cooper, Heron & Heward, 2007).
Treinamento de Sentar-se Adequadamente
Ensinar a criança a sentar-se adequadamente em uma cadeira é outra habilidade essencial que pode ser desenvolvida através do ABA. Este treinamento também segue as etapas de ajuda física, gestual e independente.
Na fase de ajuda física total, o terapeuta guia fisicamente a criança para se sentar, ajudando-a a entender o que é esperado. O reforço positivo é fornecido assim que a criança se senta corretamente. Na fase de ajuda gestual, o terapeuta aponta para a cadeira ou faz outros gestos que indiquem o comportamento desejado. Reforços positivos continuam a ser fornecidos. Finalmente, na fase de ajuda independente, a criança é incentivada a sentar-se sozinha, com o terapeuta observando e reforçando as tentativas bem-sucedidas (Skinner, 1971).
Treinamento para Esperar
Ensinar a criança a esperar pacientemente é uma habilidade importante que pode ser desafiadora para muitas crianças com TEA. O treinamento de espera utiliza uma abordagem gradual, começando com períodos curtos de espera que são progressivamente aumentados.
Inicialmente, o terapeuta pode utilizar um sistema de dicas, começando com a ajuda física total (por exemplo, segurando gentilmente a mão da criança para evitar que ela pegue um objeto antes do tempo permitido). À medida que a criança demonstra compreensão, o terapeuta pode transitar para a ajuda gestual (apontando para um cronômetro, por exemplo) e, eventualmente, para a ajuda verbal, onde simples lembretes são suficientes para que a criança compreenda que precisa esperar.
O uso de um cronômetro pode ajudar a criança a entender o conceito de tempo e a saber quanto tempo ela precisará esperar. Reforços positivos são fornecidos ao final do período de espera, incentivando a criança a repetir o comportamento desejado (Bailey & Burch, 2016).
Treinamento de Operantes Verbais
Os operantes verbais, como mandos, tatos e ecoicos, são fundamentais para o desenvolvimento da comunicação em crianças com TEA. Cada operante verbal é treinado utilizando as mesmas etapas de ajuda física, gestual e independente.
Por exemplo, ao treinar um mando (como pedir por “água” quando a criança está com sede), o terapeuta pode inicialmente utilizar a ajuda física total, segurando as mãos da criança e orientando-a a fazer o pedido verbalmente. Na fase de ajuda gestual, o terapeuta pode apontar para a água ou fazer gestos que incentivem a criança a verbalizar seu pedido. Finalmente, na fase independente, a criança é incentivada a pedir por água sem assistência, com reforços positivos dados para cada pedido correto (Skinner, 1957).
Aplicação Prática e Generalização
A eficácia dos treinamentos depende não apenas da aplicação rigorosa das técnicas de ABA, mas também da capacidade de generalizar as habilidades adquiridas para diferentes contextos. Para promover a generalização, é importante praticar as habilidades em diversos ambientes e com diferentes pessoas. Isso pode incluir a prática das habilidades na escola, em casa, ou em locais públicos, além de envolver familiares e outros cuidadores no processo de treinamento.
Por exemplo, uma criança que aprendeu a fazer contato visual durante as sessões de ABA no consultório do terapeuta deve ser incentivada a praticar essa habilidade em casa, na escola e durante interações com outras pessoas. O mesmo se aplica ao treinamento para sentar-se adequadamente ou esperar. A consistência na aplicação das técnicas e no reforço das habilidades em diferentes ambientes é fundamental para o sucesso da intervenção (Stokes & Baer, 1977).
Conclusão
A expansão dos treinamentos ABA para incluir habilidades como contato visual, sentar-se adequadamente, esperar e operantes verbais é fundamental para o desenvolvimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ao aplicar uma abordagem estruturada que inclui ajudas físicas, gestuais e independentes, os profissionais podem promover a independência e a capacidade de interação dessas crianças. A generalização das habilidades para diferentes contextos é essencial para garantir que as crianças possam aplicar o que aprenderam em sua vida cotidiana, resultando em melhorias significativas em sua qualidade de vida.
Referências
- BAILEY, Jon S.; BURCH, Mary R. Ethics for Behavior Analysts. 3ª ed. New York: Routledge, 2016.
- COOPER, John O.; HERON, Timothy E.; HEWARD, William L. Applied Behavior Analysis. 2ª ed. Upper Saddle River: Pearson, 2007.
- SKINNER, B. F. Verbal Behavior. New York: Appleton-Century-Crofts, 1957.
- SKINNER, B. F. About Behaviorism. New York: Knopf, 1971.
- STOKES, T. F.; BAER, D. M. An implicit technology of generalization. Journal of Applied Behavior Analysis, 10(2), 349-367, 1977.