História do TEA

Introdução
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição amplamente reconhecida hoje em dia, mas sua história é marcada por mudanças significativas no entendimento e nos critérios diagnósticos. Desde as primeiras observações de Leo Kanner sobre o autismo infantil precoce até a definição mais abrangente do espectro no DSM-5, o caminho para a compreensão do autismo foi longo e cheio de avanços importantes. O objetivo deste artigo é explorar essa evolução histórica, desde os primeiros estudos até a concepção moderna do TEA como parte da neurodiversidade.


Desenvolvimento

As Primeiras Descrições
Embora comportamentos semelhantes ao autismo tenham sido observados ao longo da história, foi Leo Kanner, em 1943, quem ofereceu a primeira descrição clínica detalhada do “autismo infantil precoce”. Ele observou um grupo de crianças que exibiam uma falta de interesse em interações sociais, uma insistência em rotinas e uma tendência a comportamentos repetitivos. Ao mesmo tempo, na Áustria, Hans Asperger estava estudando um grupo de crianças que demonstravam dificuldades sociais semelhantes, mas com habilidades linguísticas e intelectuais relativamente preservadas, o que mais tarde seria conhecido como Síndrome de Asperger.

As contribuições de Kanner e Asperger lançaram as bases para o diagnóstico de diferentes manifestações do autismo. Enquanto Kanner focou no autismo como uma condição que começava na infância e era caracterizada por isolamento social e comportamentos restritivos, Asperger sugeriu que algumas pessoas com autismo poderiam ter habilidades intelectuais e linguísticas excepcionais.

A Separação do Autismo da Esquizofrenia
Até meados do século XX, o autismo era frequentemente confundido com esquizofrenia, devido a algumas semelhanças nos comportamentos sociais e nas dificuldades de interação. Foi apenas nas décadas de 1960 e 1970 que pesquisadores começaram a reconhecer o autismo como uma condição distinta. A esquizofrenia, que se manifesta geralmente na adolescência ou na vida adulta, tem causas e características diferentes, enquanto o autismo é uma condição de início na infância que afeta o desenvolvimento social e comunicativo.

Essa separação foi fundamental para a elaboração de intervenções mais eficazes, focadas especificamente nas necessidades de indivíduos com TEA. O reconhecimento do autismo como um transtorno do desenvolvimento permitiu uma abordagem mais adequada ao tratamento e ao suporte dessas pessoas.

O Crescimento do Interesse no Autismo e a Consolidação do Espectro
A partir da década de 1980, o autismo começou a receber mais atenção no campo da psiquiatria e psicologia. O lançamento do DSM-III, em 1980, foi um marco importante, pois incluiu o autismo como uma categoria diagnóstica separada. Contudo, foi apenas com o DSM-IV, em 1994, que uma abordagem mais abrangente foi adotada, agrupando diferentes formas de autismo, como a Síndrome de Asperger, sob a categoria de “Transtornos Invasivos do Desenvolvimento” (TID).

No DSM-5, lançado em 2013, houve uma mudança significativa, consolidando todas essas condições em um único diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Isso foi feito para refletir a natureza heterogênea do autismo e permitir uma maior flexibilidade no diagnóstico. O conceito de “espectro” abrange uma ampla gama de manifestações, reconhecendo que cada indivíduo com TEA pode ter necessidades e capacidades únicas.

Movimento Neurodiversidade e Inclusão
Além das mudanças nos critérios diagnósticos, o movimento pela neurodiversidade ganhou força a partir da década de 1990. Esse movimento defende que diferenças neurológicas, como o autismo, não são “deficiências” a serem corrigidas, mas sim variações naturais da cognição humana. O conceito de neurodiversidade promove uma visão mais inclusiva do autismo, destacando a importância de aceitar e respeitar essas diferenças.

A neurodiversidade também trouxe à tona debates sobre o subdiagnóstico em mulheres e minorias raciais. Muitas meninas e mulheres autistas, por exemplo, passam despercebidas nos diagnósticos por apresentarem sintomas menos evidentes ou por desenvolverem estratégias de camuflagem social. Com isso, a conscientização sobre essas questões tem aumentado, levando a uma maior equidade no diagnóstico e tratamento do TEA.


Conclusão
A história do Transtorno do Espectro Autista reflete a evolução contínua da ciência e da medicina no entendimento dessa condição. Desde as primeiras observações de Leo Kanner e Hans Asperger, até a inclusão do conceito de espectro no DSM-5, o autismo passou de uma condição mal compreendida para uma área central de estudo na psiquiatria. O movimento pela neurodiversidade também ajudou a moldar uma visão mais inclusiva e compassiva do autismo, promovendo o respeito às diferenças e a aceitação da diversidade cognitiva.


Referências Bibliográficas
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM-5. 5ª ed. Arlington, VA: American Psychiatric Publishing, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de manejo clínico do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Brasília, 2014.
SOUZA, D. G., BARBOSA, D. S. Diagnóstico e Prevalência do Transtorno do Espectro Autista no Brasil: Uma Revisão. Revista de Saúde Pública, v. 35, n. 1, p. 54-61, 2021.
HULL, L. et al. Gender Differences in Autism Spectrum Disorder: Implications for Diagnosis and Intervention. Autism Research, v. 13, n. 1, p. 22-36, 2020.

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