Introdução
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma abordagem científica amplamente utilizada para promover o desenvolvimento de habilidades em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Este artigo, aborda os procedimentos básicos de intervenção na ABA, focando nas técnicas de modelagem e encadeamento. Essas técnicas são fundamentais para a implementação eficaz de intervenções comportamentais, facilitando a aquisição de habilidades complexas e promovendo a independência dos indivíduos.
Desenvolvimento
A modelagem é uma técnica central na ABA, utilizada para ensinar novos comportamentos por meio do reforço gradual de aproximações sucessivas do comportamento-alvo. Essa técnica é particularmente eficaz para indivíduos com TEA, que podem apresentar dificuldades em aprender habilidades de maneira direta. A modelagem pode ser realizada por meio de demonstrações ao vivo ou através de vídeos, nos quais o comportamento desejado é exibido, seguido pela oportunidade para o indivíduo imitar a ação (Charlop-Christy, Le & Freeman, 2000).
No contexto do autismo, a modelagem pode ser utilizada para ensinar uma ampla gama de habilidades, incluindo comunicação verbal, habilidades sociais, acadêmicas e de autocuidado. Por exemplo, ao ensinar uma criança autista a se comunicar verbalmente, o processo de modelagem pode começar com a demonstração de comportamentos simples, como apontar para um objeto desejado, e gradualmente progredir para a emissão de sons, palavras, e eventualmente frases completas. O reforço positivo desempenha um papel essencial nesse processo, fortalecendo a associação entre o comportamento desejado e uma consequência positiva, como elogios ou recompensas tangíveis (Plácido, 2019).
Além da modelagem, o encadeamento é uma técnica fundamental para ensinar comportamentos complexos, dividindo uma tarefa em passos menores e mais gerenciáveis. Existem dois tipos principais de encadeamento: simples e avançado. No encadeamento simples, cada passo de uma tarefa é ensinado individualmente, permitindo que o aluno domine cada componente antes de avançar para o próximo. Essa abordagem é especialmente útil para crianças com TEA, pois facilita a compreensão e execução de tarefas complexas, reduzindo a sobrecarga cognitiva e aumentando a probabilidade de sucesso (Goulart & Assis, s.d.).
O encadeamento avançado, por outro lado, envolve a integração dos passos individuais previamente aprendidos em uma sequência completa, promovendo a fluidez e a continuidade na execução da tarefa. Essa técnica é frequentemente utilizada para ensinar habilidades de vida diária, como vestir-se ou preparar refeições, que envolvem múltiplos passos e sequências de comportamentos. O processo de encadeamento avançado pode ser realizado de forma progressiva, começando com os primeiros passos da sequência, ou de forma regressiva, iniciando pelos últimos passos e retrocedendo para os anteriores (Cortez, De Rose & Montagnoli, s.d.).
A combinação dessas técnicas com o reforço positivo e a estruturação do ambiente é essencial para criar um contexto de aprendizagem eficaz. Um ambiente estruturado oferece clareza e previsibilidade, o que é especialmente importante para indivíduos com TEA, que muitas vezes respondem melhor a rotinas e sinais visuais. Além disso, o uso de reforço positivo após cada passo bem-sucedido motiva o aluno a continuar aprendendo e a integrar os comportamentos ensinados em sua rotina diária (Charlop-Christy et al., 2000).
A aplicação dessas técnicas na ABA não apenas facilita a aquisição de novas habilidades, mas também promove a autonomia e a funcionalidade dos indivíduos com TEA, contribuindo para uma maior qualidade de vida e inclusão social. Ao utilizar modelagem e encadeamento de forma eficaz, os terapeutas podem ajudar seus alunos a alcançar um desenvolvimento mais sustentável e eficiente.
Conclusão
Os procedimentos básicos de intervenção na Análise do Comportamento Aplicada (ABA), como a modelagem e o encadeamento, são ferramentas poderosas para ensinar habilidades complexas a indivíduos com Transtorno do Espectro Autista. Ao dividir tarefas complexas em componentes menores e reforçar comportamentos desejados, essas técnicas promovem a aquisição de habilidades de forma sistemática e eficaz. A combinação dessas técnicas com um ambiente estruturado e o uso de reforço positivo é essencial para o sucesso das intervenções e para o desenvolvimento de uma vida mais independente e produtiva para indivíduos com TEA.
Referências
- CHARLOP-CHRISTY, M. H.; LE, L.; FREEMAN, K. A. A comparison of video modeling with in vivo modeling for teaching children with autism. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 30, n. 6, p. 537-552, 2000.
- CORTEZ, M. D.; DE ROSE, J. C.; MONTAGNOLI, T. A. S. Treino e manutenção de correspondência em autorrelatos de crianças com e sem história de fracasso escolar. Universidade Federal de São Carlos, Brasil, s.d.
- GOULART, P.; ASSIS, G. J. A. Estudos sobre autismo em análise do comportamento: aspectos metodológicos. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, v. 11, n. 1, p. 73-85, s.d.
- PLÁCIDO, T. T. Efeito do tipo de regra sobre a sensibilidade comportamental em crianças autistas. Brasília, 2019. [Trabalho de conclusão de curso] – Universidade de Brasília, 2019.