Introdução
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma abordagem baseada em princípios científicos que visa modificar comportamentos por meio de reforços positivos. Na prática ABA, os programas de reforço contínuo e intermitente são utilizados para estabelecer e manter comportamentos desejados em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Este artigo, explora a aplicação desses programas de reforço, abordando suas características, benefícios e considerações práticas para o sucesso da intervenção.
Programas de Reforço Contínuo
O reforço contínuo é uma estratégia em que o comportamento desejado é reforçado imediatamente após cada ocorrência. Este tipo de reforço é altamente eficaz na fase inicial de aprendizado, pois estabelece uma forte associação entre o comportamento e a consequência positiva. Por exemplo, ao ensinar uma criança com TEA a amarrar os sapatos, cada vez que a criança completa a tarefa, ela recebe um reforço, como elogios ou uma pequena recompensa, fortalecendo a repetição do comportamento (Cooper, Heron & Heward, 2007).
No entanto, o reforço contínuo, embora eficaz no início, pode levar à dependência excessiva do reforço. Se o reforço for retirado abruptamente, pode ocorrer a extinção do comportamento, onde a criança deixa de realizar a ação sem a expectativa de recompensa. Para evitar essa dependência, é fundamental transitar gradualmente do reforço contínuo para o intermitente, promovendo a autonomia e a sustentabilidade do comportamento aprendido (Skinner, 1971).
Programas de Reforço Intermitente
O reforço intermitente é aplicado de forma não contínua, ou seja, o comportamento não é reforçado após cada ocorrência. Esse tipo de reforço é eficaz para manter comportamentos a longo prazo e promover a resistência à extinção. Existem diferentes tipos de reforço intermitente, incluindo intervalos fixos, intervalos variáveis, razão fixa e razão variável, cada um com suas aplicações específicas (Plácido, 2019).
Por exemplo, no reforço por intervalo fixo, um reforço é dado após um tempo específico de comportamento desejado. Uma aplicação prática pode ser a recompensa de uma criança por participar ativamente de uma atividade social a cada 15 minutos. Esse tipo de reforço ajuda a criança a desenvolver habilidades de tolerância e paciência, além de promover a manutenção do comportamento ao longo do tempo (Goulart & Assis, s.d.).
Outro exemplo é o reforço por razão variável, onde a criança recebe reforços após um número variável de comportamentos desejados, sem saber exatamente quando será recompensada. Essa incerteza mantém a motivação da criança para continuar exibindo o comportamento, mesmo na ausência imediata de reforço, e é particularmente eficaz em contextos onde a resistência à extinção é desejada (Cortez, De Rose & Montagnoli, 2020).
Transição de Reforço Contínuo para Intermitente
A transição do reforço contínuo para o intermitente deve ser feita de forma gradual e estratégica, garantindo que o comportamento esteja bem estabelecido antes de diminuir a frequência de reforços. Durante essa transição, é importante observar a reação da criança e ajustar a abordagem conforme necessário. O objetivo é que a criança continue a exibir o comportamento desejado, mesmo com menos reforços imediatos, promovendo a generalização do comportamento para diferentes contextos e situações (Cooper et al., 2007).
Aplicações Práticas e Considerações
A escolha entre reforço contínuo e intermitente deve ser baseada nas necessidades individuais da criança e nos objetivos da intervenção. O reforço contínuo é ideal para a fase de aquisição de novos comportamentos, enquanto o intermitente é mais adequado para a manutenção e generalização desses comportamentos. É fundamental que os ATs (Assistentes Terapêuticos) avaliem continuamente o progresso da criança e ajustem os programas de reforço para maximizar a eficácia da intervenção (Skinner, 1971).
Além disso, é importante considerar as preferências e sensibilidades da criança ao escolher os reforços. Reforçadores eficazes podem variar de uma criança para outra e podem incluir elogios, atividades preferidas, brinquedos ou alimentos. A individualização dos reforços e a adaptação às necessidades da criança são essenciais para o sucesso da ABA (Plácido, 2019).
Desafios na Implementação dos Programas de Reforço
Embora os programas de reforço contínuo e intermitente sejam eficazes, sua implementação pode apresentar desafios. Um dos principais desafios é evitar que a criança se torne dependente de reforços externos para realizar comportamentos desejados. Para mitigar esse risco, é essencial introduzir reforços naturais e intrínsecos ao longo do tempo, como o prazer de realizar uma tarefa bem-feita ou a satisfação de interagir socialmente com sucesso (Goulart & Assis, s.d.).
Outro desafio é a necessidade de flexibilidade e adaptação constantes dos programas de reforço. O que funciona em um contexto ou com uma criança pode não ser eficaz em outro. Portanto, os ATs devem estar preparados para ajustar suas estratégias com base no feedback contínuo e na observação direta dos comportamentos da criança (Cortez et al., 2020).
Conclusão
Os programas de reforço contínuo e intermitente desempenham um papel essencial na Análise do Comportamento Aplicada (ABA), especialmente no contexto do tratamento de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A escolha e a aplicação adequada desses programas são fundamentais para o sucesso das intervenções comportamentais, promovendo a aquisição e manutenção de comportamentos desejados. Com uma abordagem personalizada e flexível, baseada nas necessidades individuais de cada criança, é possível alcançar resultados significativos e duradouros, contribuindo para o desenvolvimento e a qualidade de vida dos indivíduos atendidos.
Referências
- COOPER, John O.; HERON, Timothy E.; HEWARD, William L. Applied Behavior Analysis. 2. ed. Upper Saddle River, NJ: Pearson, 2007.
- CORTEZ, Mariéle Diniz; DE ROSE, Julio Cesar; MONTAGNOLI, Tathianna Amorim Souza. Treino e manutenção de correspondência em autorrelatos de crianças com e sem história de fracasso escolar. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, Universidade Federal de São Carlos, v. 15, n. 2, 2020.
- GOULART, Paulo; ASSIS, Grauben José Alves de. Estudos sobre autismo em análise do comportamento: aspectos metodológicos. [Local de publicação não informado], s.d.
- PLÁCIDO, Thaís Teixeira. Efeito do tipo de regra sobre a sensibilidade comportamental em crianças autistas. Brasília, 2019. [Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação] Universidade de Brasília.